Tudo sobre reality shows e o que essa paixão diz sobre o público

Se tem uma coisa que o brasileiro ama mais (ou quase) que o futebol, é o reality show. Desde que o primeiro programa do gênero foi exibido por aqui, em 2000, nossa paixão pela não-ficção só tem aumentado. Um estudo divulgado em março pela empresa de tecnologia MindMiners, sobre a relação dos brasileiros com o formato, apontou que 60% dos entrevistados consomem algum reality diariamente, seja para passar o tempo ou por diversão. “A falta de um roteiro totalmente delineado e ensaiado atiça a curiosidade do brasileiro”, afirma o diretor do Museu da TV, Rádio & Cinema, Elmo Francfort.

Segundo o especialista, a correspondência entre pessoas reais, participantes e público – é um dos pontos altos. “A instantaneidade e a espontaneidade também são elementos-chave, porque, mesmo que você tenha linhas que possam dar um certo posicionamento e previsões de jogos futuros, há o fator inusitado, o desconhecido e o improviso. Tudo isso conta”, analisa Francfort. “Além disso, é um gênero que está se reinventando cada vez mais, sempre criando novas fórmulas.” Uma delas é A Ponte: The Bridge Brasil, que acaba de chegar ao catálogo da HBO Max. Com apresentação de Murilo Rosa, o programa acompanha um grupo de 12 pessoas, entre famosos e anônimos, que precisam construir uma ponte no meio da Mata Atlântica – apenas com recursos existentes no local. Ao chegar do outro lado da ponte, os participantes encontram um baú com R$ 500 mil. E aí vem o plot twist: haverá uma votação para decidir quem leva o dinheiro, e o vencedor deverá escolher se fica com tudo ou se divide o valor entre o grupo.

A Ponte: The Bridge Brasil

Para Murilo, o programa se destaca pelos aprendizados e por transformar quem assiste ou participa dele. “A ponte é, na verdade, uma metáfora”, diz. “É sobre as conexões que fazemos nas nossas vidas, no trabalho, nas relações amorosas, então é um jogo de união e não uma competição, mas isso é descoberto ao tempo em que já existem alguns conflitos”. A atriz Danielle Winits, o cantor Badauí, a modelo Suyane Moreira e a cantora Pepita estão entre as celebridades que integram a temporada de estreia.

Como muitos de nós, o ator e apresentador passou a acompanhar reality shows durante a pandemia. “Eu não tinha o costume, mas gostei de alguns. Acho que o formato traz um respiro de todos os gêneros de ficção.” Murilo também vê esse tipo de programa como um espelho social. “A pessoa se projeta ali de uma certa forma, como acontece com as novelas. Ela se identifica com essas histórias e almeja as mesmas oportunidades”, destaca.

Além de uma identificação cultural, os reality shows trazem conexões que emocionam com realidades diversas e histórias reais fora do lugar-comum, como vimos em Queen Stars Brasil, por exemplo. “Desde o lançamento da HBO Max, há um ano, a diversidade e a inclusão são pilares na nossa produção de conteúdo e trabalhamos nessa direção. Nossa estratégia é produzir conteúdos de qualidade com os melhores talentos e parceiros, para contar as histórias que nos apaixonam e atingir o maior público possível”, diz a Diretora de Conteúdo Unscripted da Warner Bros. Discovery da América Latina, Paula Kirchner. Para ela, o gênero veio para ficar e reforça a importância para a plataforma. “Na equipe de Não-Ficção da HBO Max trabalhamos constantemente para que nossa tela tenha cada vez mais lugar para vozes e histórias diversas”, completa. São tantas opções, dinâmicas e temáticas, que é difícil não ser impactado por esse tipo de conteúdo. […] “O interessante é que o reality show é um pouco de todos os gêneros. Uma mistura  muitas vezes perfeita”, analisa Francfort. De acordo com ele, há dois pilares importantes: “aproximação ao extremo do dia a dia das pessoas, e fórmulas que surpreendem por nos levarem a universos impensáveis, com quebras de paradigmas, tradições e tabus.” Mas, acima de tudo, o conteúdo precisa ser bom e gerar engajamento. “Independentemente do gênero, o espectador sempre tem que ganhar e, nesse ponto, o streaming tem a seu favor um segredo: o poder de escolha e a possibilidade de ver de novo.

Pabllo Vittar e Luísa Sonza, apresentadoras de Queen Stars Brasil

Paula também vê isso como uma vantagem. “Estamos vendo uma acelerada transformação do mundo e como, criadores e contadores de histórias, temos uma oportunidade única de nos conectar com nossa audiência como nunca antes”, explica. “Nesse contexto, as histórias desenvolvem seu grande poder de nos aproximar como sociedade e nos ajudar a repensar o mundo”, completa. Mesmo com tantos pontos positivos, ainda há quem critique o gênero e o considere alienante. “O reality, assim como a ficção, é entretenimento, é justamente para ser um respiro à realidade, um momento de descanso. Isso não quer dizer alienação”, defende Francfort. “Quantos temas sociais são levantados nesses programas e acabam tendo maior engajamento junto ao público? Educação, diversidade, preconceito racial, homofobia, intolerância, religião…”

Críticas à parte, o gênero entrega muita coisa boa, seja aquele episódio dramático que nos faz gritar e torcer por nosso participante favorito como se estivéssemos numa final de Copa do Mundo, ou em um programa de culinária que desperta um lado chef que nem sabíamos existir, ou simplesmente alguns momentos de descontração, embalados por performances musicais e artísticas carregadas de emoção. Seja como for, uma coisa é certa: os reality shows são a verdadeira paixão nacional.

 

Matéria escrita por Vogue Brasil.

A representatividade LGBTQIAP+ no audiovisual

A luta pela representatividade de identidades de gênero nas produções audiovisuais não é nova. Artistas LGBTQIAP+ como Divina Valéria, Divina Nubia e Rogéria foram precursoras, desde meados dos anos 1960, do movimento que tem ganhado cada vez mais força ao longo dos anos. […] A causa trouxe resultados: ícones da cena, como as drags Marcia Pantera, Tchaka e Salete Campari, por exemplo, aparecem no episódio 4 de Queen Stars Brasil, reality show apresentado por Pabllo Vittar e Luísa Sonza que busca coroar as próximas estrelas drag queens.

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Nesse aspecto, reality shows como The Cut e Queen Stars Brasil são ferramentas importantes para atingir um público além da comunidade LGBTQIAP+ e também na educação da sociedade contra o preconceito.

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Para Reddy Allor, Leyllah Diva Black e Diego Martins, as drag queens que formam o trio Pitayas, vencedor da primeira temporada de Queen Stars Brasil, o pensamento é similar. “Hoje minha família vê minha arte como um trabalho e não uma brincadeira”, diz Reddy Allor, integrante do grupo e estrela do queernejo (subgênero musical que busca trazer a representatividade LGBTQIAP+ para o universo sertanejo). “Eles me assistem vendo quem eu sou, uma drag queen que quer quebrar barreiras e está na TV”. Desde a vitória no programa, elas se tornaram uma fonte de inspiração para outras pessoas interessadas na arte drag.

“Quanto mais artistas como nós aparecem, mais talentos surgirão e poderão se inspirar nisso”, opina Diego Martins. “As pessoas têm a oportunidade de conhecer outros estilos, afinal somos diferentes da Pabllo Vittar, por exemplo, e de tudo que há no mercado”, complementa Leyllah Diva Black. “Tenho recebido muitas mensagens de pessoas dizendo que se inspiram em mim, é mágico ver que consegui chegar nesse lugar e incentivar pessoas a chegarem lá também.”

Pitayas: Diego Martins, Leyllah Diva Black e Reddy Allor.

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“Um programa com mais de 20 drags, cada uma de um canto, mostrando toda essa variedade de sotaques e talentos é ótimo”, opina Diego. “Além disso, você consegue se identificar com o todo de uma pessoa, com as fragilidades, as conquistas e, automaticamente, se encaixar nisso”, completa Reddy.

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“É um caminho de evolução. Quanto mais conteúdo de qualidade e engajamento gerado, maior será a possibilidade de continuar fazendo e ampliando essa audiência”, arremata Leyllah.

 

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